domingo, 6 de fevereiro de 2011

O LEITOR DIANTE DO IMPONDERÁVEL E A BUSCA PELA NOTÍCIA DE CONSUMO FÁCIL

Malu Fontes

Jornalista, doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas e Professora da Facom-UFBA
 

No Brasil, o cidadão mediano, mesmo o de classe média alta do ponto de vista econômico, mas sem equivalência em repertório cultural, não tem interesse em informações complexas e tende a preferir consumir informação grotesca, vulgar, sem compromisso com o alargamento de sua compreensão do mundo. E, como a violência, a corrupção, a perversão humana, a violência contra as mulheres, os gays, as crianças e os pobres atingem índices alarmantes, cria-se, então, uma espécie de intolerância do consumidor mediano de notícias com as informações consideradas por ele como desagradáveis. Esse leitor busca o jocoso, o curioso, o que lhe parece imponderável, como quantas vezes uma baleia engravida ao longo da vida ou como o galo ejacula.

Esse leitor considera mil vezes mais importante ler e discutir o surgimento de um 13º signo, sobretudo quando é batizado de serpentário, do que ler, se interessar e, menos ainda, discutir a eternização de Sarney como presidente do Senado. Como seu repertório já é curto e esse leitor ou telespectador não vê nenhum problema nisso, aliado ao fato de considerar as notícias sérias chatas, ele opta, voluntariamente ou não, por uma espécie de alienação do mundo onde, de fato, as coisas que importam são decididas e acontecem. Esse leitor está para informações como esta do signo serpentário como a espuma está para água: encharca-se, absorve todas. São unha e cutícula. Notícias dessa natureza são das poucas que lhe interessam. Eles querem saber do transcendental, do imponderável, do inócuo, do milagre. E esses leitores e telespectadores são maioria, daí a repercussão.
 
Mas há duas explicações para esse fenômeno, ou seja, para a repercussão de um tipo de notícia como esta ampliar-se tanto. A primeira delas é que, com o fenômeno da internet, do jornalismo online, com a concorrência dos sites e portais por audiência, a necessidade de abastecer esses espaços com informações novas e diferentes torna-se incessante. A segunda explicação é que a universalização maior do ensino não se traduziu em um universo de leitores e telespectadores mais exigentes quanto à qualidade e à importância das narrativas que consomem, sejam elas informativas ou não.

Um comentário:

  1. Um pouco dos dois, ou seja, as informações que chegam a todo o instante e requerem, assim, maior "dinamismo" por parte do leitor ( daí se explica, em parte, o sucesso dos 140 caracteres - quem quer ler longos textos na web, mesmo quando aparece um "serpentário" no zodíaco?) e a questão do ensino que é mais reprodutor (cópias, fórmulas e metodologias "eternas") do que produtor de fato. ( e para isso é preciso leitura, que concorre com as imagens - TV e internet - e carece de maiores e melhores incentivos nas escolas)

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