domingo, 27 de fevereiro de 2011

TELEANÁLISE: A Quitinete é a Nova Senzala

Malu Fontes

Malu Fontes, jornalista e professora

O diabo, sabe-se, mora nos detalhes. Uma matéria aparentemente despretensiosa, exibida na edição da última terça-feira do Bom Dia Brasil (Globo), traduz os níveis de sofisticação atingidos pelo capitalismo contemporâneo no processo de transformação voluntária, consentida e dócil da mão-de-obra assalariada, embora ‘diferenciada’, que move as engrenagens do mundo. Com ares publicitários e entre sorrisos literais, os âncoras do Bom Dia, Renato Machado, Renata Vasconcelos e Carla Vilhena, anunciavam em tons festivos e celebratórios a mais nova tendência do mercado imobiliário em São Paulo: o boom de construção de apartamentos de um dormitório, com no máximo 30 metros quadrados, que vendem hoje mais que pão quente. E não são para solteiros nem para recém-formados, mas para famílias pequenas com objetivos muito claros: melhorar a qualidade de vida (sic), não tendo que cuidar de lares maiores, que dão muito trabalho e exigem empregado doméstico, aliado ao fato de não perder tempo no trânsito e, principalmente, morar perto do trabalho.

Os apresentadores, sempre entre sorrisos típicos de quem anuncia um design novo de algo fundamental e redefinidor, para melhor, da vida contemporânea, anunciavam, num tom menos para o jornalismo e mais para o publicitário, o quanto é mais fácil, barato e prático trocar um apartamento comum ou uma casa mais confortável por um armário de 30 metros quadrados desde que essa troca seja justificada pelo auto-engano da conquista de mais qualidade de vida por morar perto do trabalho e não perder mais tempo no trânsito.

ESCRAVO FELIZ - Traduzindo a sutileza, admite-se, usando como logomarca argumentativa a ‘evolução das quitinetes’, que, para servir bem ao senhor mercado de trabalho, é preciso, cada vez mais, estar próximo dele, fundir-se com ele, mesmo que, para isso, seja necessário encaixotar uma família com filhos em 30 metros quadrados e anunciar ao mundo que esta é uma decisão sábia, pragmática e, sobretudo, em favor da qualidade de vida. Em outras palavras, para ser um escravo mais feliz e mais eficiente, é preciso inventar uma nova senzala, uma nova  extensão da nova casa grande. A senzala agora atende pelo nome de evolução inteligente da quitinete do passado e o escravo, mesmo livre para fazer escolhas, escolhe viver num caixote doméstico para chegar mais cedo e servir melhor ao patrão.    

Entretanto, para além das leituras em torno dos significados em torno da opção voluntária de viver para o emprego e em função deste, mesmo que dentro de uma caixa de cimento, chamava atenção na abordagem do boom das novas quitinetes, agora familiares, a ausência de qualquer elemento contraditório que aproximasse o fenômeno das características mais óbvias que o geram: a concentração de gente nos grandes centros urbanos, a falta de espaço para moradias mais saudáveis, a deficiência das redes de transporte público no Brasil e, sobretudo, os níveis de concessões que as pessoas estão, e precisam estar, dispostas a fazer em nome da disponibilidade para o trabalho inversamente proporcional à qualidade da vida privada e familiar. Ou alguém acredita que um emprego vale o custo de viver uma relação familiar, com filhos, em 30 metros?

Quanto ao tom da matéria produzida pelo Bom Dia, nem a mais sofisticada campanha publicitária de uma incorporadora voltada para a venda de imóveis de 30 metros, embalados como a solução mais inteligente, pragmática e saudável para quem quer trabalhar feliz, conseguiria ser mais eficiente que a abordagem jornalística feita no Bom Dia sobre o fenômeno. Embora a intenção da matéria possa estar longe de ter sido essa, o resultado final da abordagem converteu-se num daqueles emblemáticos casos em que a fronteira entre a informação e a propaganda dilui-se quase que completamente. Mesmo porque, nesse caso específico, alguma desvantagem ou desconforto deve haver no ato de fazer caber uma família num cubículo de 30 metros. E estes passaram longe da matéria celebratória.   

MORAR NO SHOPPING – Uma tendência em todos os grandes centros urbanos brasileiros, o fenômeno do apelo imobiliário para que as pessoas se mudem para endereços próximos ao trabalho amplia-se e, no caso de Salvador, chama atenção a profusão de anúncios de apartamentos convidando as pessoas para desfrutar da comodidade que é morar não apenas nas proximidades dos principais endereços comerciais da cidade como também para que as pessoas escolham apartamentos praticamente dentro, de tão próximos, dos principais shopping centers. Não é à toa que em torno de alguns deles erguem-se hoje verdadeiras colônias de apartamentos residenciais. Ou seja, a vida doméstica e cotidiana vem sendo convidada, cada vez com mais ênfase e em nome da comodidade, para se mudar literalmente para dentro dos templos do consumo e para as senzalas contemporâneas, as imediações do trabalho. E mesmo nos endereços novos onde não é assim, o comum é destacar nos anúncios não o tamanho dos apartamentos, mas a extensão das áreas comuns do edifício. Para que um quarto confortável em extensão suficiente para as portas dos armários se abrirem se o playground é amplo? 


Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 27 de fevereiro de 2011, no jornal A Tarde, Salvador/BA. maluzes@gmail.com

domingo, 20 de fevereiro de 2011

TELEANÁLISE: A Biologia Ainda Ri da Panacéia

Malu Fontes
Malu Fontes, professora e jornalista
Um dos fatos mais abordados pelo jornalismo brasileiro durante a semana, em todas as mídias, foi o anúncio da despedida de Ronaldo, “O Fenômeno”, dos campos de futebol. Horas de telejornalismo esportivo, links incontáveis em sites e portais de todo o mundo e manchetes de jornais em todos os idiomas foram usados para elogiar o percurso de um atleta considerado um dos mais brilhantes e talentosos de sua geração e, de modo subliminar, para jogar areia no discurso pirlimpimpim acerca dos milagres hoje anunciados em todos os meios massivos de comunicação que garantem a eternização da juventude e do vigor físico.  
 
INVERDADES - As manchetes que anunciavam a retirada de campo de Ronaldo dividiam-se entre a abordagem do encerramento da carreira em si e a frase de efeito dita pelo atleta, cujas palavras para justificar a decisão de parar de jogar foram: “eu perdi para o meu corpo”, acrescentadas de lamentos sobre a tristeza que é para um atleta elaborar mentalmente uma estratégia de jogo e o corpo não mais conseguir obedecer e executá-la. Para dar tons mais romanescos ao seu canto do cisne da bola, tentou introduzir um tantinho de culpa na imprensa que há tempos vem fazendo troça do seus 100 quilos. Atribuiu o sobrepeso ao fato de sofrer de hipotireoidismo, uma deficiência do organismo que retarda a velocidade do metabolismo e dificulta a perda de peso.
 
E Ronaldo foi mais longe: não poderia, mesmo se quisesse, medicar-se contra isso, pois a medicação seria apontada como doping. Que Ronaldo foi um atleta genial, é verdade, mas as duas afirmações são inverdades, como costumam dizer as raposas da política quando querem dizer que seus nobres colegas mentem. O médico do Corinthians, nem bem as palavras do ídolo pululavam nos sites, desmentia-as. O hipotireoidismo de Ronaldo era latente, ou seja, ainda assintomático, sem manifestação no corpo, e a legislação internacional esportiva estabelece e garante que, para que um medicamento ingerido por um atleta deixe de ser considerado doping basta que sua necessidade médica de uso seja comunicada às instituições esportivas por vias oficiais. E são os médicos que o acompanhavam que dizem isso.

CARTAS - Entretanto, para além das razões e limitações físicas que obrigaram Ronaldo a deixar o futebol e também para além do draminha de deixar o consumidor de informação e os jornalistas de um modo geral atirando-lhe um punhado de culpa sob a alegação do hipotireoidismo e do desafio de não poder ser acusado de doping, o fenômeno substantivo que vem à tona com a impossibilidade física do Fenômeno adjetivo continuar jogando futebol profissionalmente é a máxima de que, apesar da panacéia decantada por múltiplos setores do mundo da técnica e da ciência contemporâneas em torno do retardamento da velhice e do prolongamento da juventude e do vigor físicos, ainda é a velha, ancestral e poderosa biologia quem continua dando as cartas.

Se fossem verdadeiros os milagres prometidos pela ciência e, sobretudo pela medicina estética, e se fossem reais as promessas feitas pelos manuais que vendem como pão quente ensinando a todos (e, sobretudo a todas) como se manter sempre jovem e a não morrer nunca, a não ser que o mortal seja um incompetente desobediente ou sem dinheiro para comprar os kits de longevidade e boa forma, não se veriam atletas poderosos derrotados pelo corpo nem mulheres se tornando de uma feiúra e deformidade obscenas por introduzir no corpo qualquer elemento ou ingrediente que prometa juventude. As dores que tornam uma escada de casa difícil de ser subida por Ronaldo, entre a sua sala de estar e o quarto, e que o impedem de jogar futebol profissionalmente, são as mesmas marcas do tempo e da imposição biológica que tornam as mulheres brasileiras e americanas as mais insensatas do mundo na arte da deformação da própria imagem.

RONALDAS - Como “Ronaldas” decadentes e teimosas que querem continuar acreditando que são fenomenais e ainda batem um bolão estético, as mulheres acima dos 40 anos com qualquer centavo no bolso multiplicam-se nos espaços sociais espantando quem as olhas. Aos 60, pensam que compram, sob a forma de botox, plásticas e silicones, aparência de mocinhas de 25. Lipoesculturadas e com cinturas recém construídas em sessões ‘carésimas’ de lipoescultura, até enganam de costas, a não ser por algumas protuberâncias subcutâneas aqui e acolá ao longo da superfície das costas, assemelhadas à doença das vacas chamada de berne, que ficam como a marca indesejada da cânula do lipoescultor que lhes sugou a gordura sobrante. Mas, o pior dos cenários, é quando uma dessas mocinhas pós-50 viram-se subitamente de frente, estampando a visão do inferno ao sonhador masculino que a acompanhava a rebolar numa calça skinny e ostentando um top justo.

Diante da crescente dificuldade feminina que se percebe nos cenários sociais mais privilegiados de envelhecer corpo e rosto com alguma dignidade, vale indicar a esse contingente em processo de metamorfose à base de toxina botulínica e silicone o exemplo de Ronaldo. Aos 65, nenhuma mulher vai poder parecer ter 30. O máximo que se consegue é um arremedo de remendos, um corpo envelhecido emulando uma juventude que já foi, ou seja, uma velha caricata, assustadora e que chama muito mais atenção pelo aspecto grotesco do que pela manutenção dos traços joviais que acredita estar comprando. Como Ronaldo de certa forma disse, o tempo é inexorável (e inechorável também).  O tempo sobre o corpo, de homens e mulheres, ainda é soberano e a biologia ainda ri da panacéia que promete o apagamento das marcas do envelhecimento. Todos ainda somos derrotáveis em nossa juvenília, tanto o Ronaldo que admite essa derrota quanto as Ronaldas vencidas que a renegam a qualquer custo.

Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 20 de fevereiro de 2011 no jornal A Tarde, Salvador/BA. maluzes@gmail.com 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O dia em que a Bahia não parou*

Malu Fontes

*texto publicado na revista da metrópole n. 03
 

Malu Fontes, professora e jornalista
Qualquer vidente de esquina apostaria que o dia do velório do senador Antônio Carlos Magalhães seria uma data ímpar na Bahia, especialmente em Salvador, com uma romaria de correligionários nas ruas, herdeiros políticos, populares, fanáticos e, por que não dizer, um batalhão de "admiradores" arregimentados por seus seguidores políticos. Ou todo mundo acredita que aquela multidão que chegava em centenas de ônibus lotados ao funeral de Luís Eduardo Magalhães, em 1998, na Assembléia Legislativa, era formada exclusivamente por um eleitorado voluntário, por um público absolutamente espontâneo? Os jornais de todo o país noticiaram que 60 mil pessoas acompanharam o funeral de Luís Eduardo. O comércio fechou e os ônibus circularam de graça, para que mais gente comparecesse.

Os tempos eram outros e, de prefeitos a vereadores de toda a Bahia, de deputados estaduais e federais ao próprio governo do estado, passando por empresários e diretores de escolas públicas, muitos foram aqueles que trabalharam duramente para encher tantos ônibus e dar aos funerais do príncipe hereditário a dimensão popular que teve. E vale lembrar que tudo aconteceu em pleno dia útil, uma sexta-feira.

TOTEM - Quase uma década depois, o totem político cuja força fez da morte e do velório do filho o evento que foi, com direito a Memorial de grandes dimensões em meio a uma das principais avenidas da cidade, que mobilizou o Congresso Nacional para mudar o nome do então Aeroporto Dois de Julho, já não tinha, quando da sua própria morte, quem agisse e trabalhasse para dar ao seu próprio velório os contornos que sempre se anunciaram na Bahia.

Quando morreu, Antônio Carlos Magalhães, o maior fenômeno político do século XX na Bahia,  já não tinha a seu favor o poder de outrora. E, conseqüentemente, já não tinha ao seu lado o exército de bajuladores, aqueles que se denominavam aliados ou admiradores e antes, em nome da   veneração de conveniência, o tratavam como o grande pai, praticamente como o inventor da Bahia. O resultado dessa mudança estatutária do poder que antes exercia, confirmada com carimbos de cores fortes com a derrota do seu candidato ao governo do estado nas últimas eleições, foi o que se viu nas ruas de Salvador no funeral do senador.

O FATO E A VERSÃO - A verdade é que, diante do que se esperava, no curto trajeto por onde passou o cortejo - do Palácio da Aclamação, nos Aflitos, até o Campo Santo, na Federação – o que se viu foram poucos "correligionários", quase nenhuma grande fortuna baiana dessas que se fizeram, inclusive, sob as gestões políticas do carlismo nessas quatro décadas, a desaparição absoluta da claquete da Axé Music que encheu as burras de dinheiro com os carnavais de cachês superfaturados sob as bênçãos da Emtursa e Bahiatursa e poucos políticos poderosos, que, por via das dúvidas, preferiram seguir o cortejo em carrões top de linha, com vidros escuros e devidamente fechados, claro.

Houve povo no enterro do senador? Houve, mas em uma quantidade absolutamente decepcionante para o que sempre se especulou. Quem nunca ouviu alguém dizer que, quando ACM morresse, seria feriado na Bahia? Nem precisava, se a intenção do feriado decretado era o de inflacionar o público, pois o funeral se deu em um sábado, dia em que muito mais gente estaria disponível para ir a um velório. No entanto, sob a cobertura das emissoras locais de TV, a impressão que se tinha era a de que, em televisão, é a mais pura verdade que uma coisa é o fato, outra coisa é a versão. E a segunda sempre parece mais importante que o primeiro. Tudo pode ser recontado, editado, moldado, enquadrado, de forma a ampliar ou reduzir o impacto e a dimensão do fato, de acordo com a vontade e os interesses daqueles que o veiculam. Nas TVs baianas, o velório de ACM foi o que sempre se esperou que fosse: um fenômeno popular sem precedência.

TELEANÁLISE: Você se lembra de mim?*

Você se lembra de mim?  

Malu Fontes
     
Malu Fontes, professora e jornalista
Entre o velório do senador Antônio Carlos Magalhães narrado pelas emissoras de televisão e o velório real, visto nas ruas, havia algumas diferenças, ignoradas convenientemente pela imprensa durante o funeral e depois dele. A iniciativa de apontar para a reduzida participação popular nos funerais coube, curiosamente, aos leitores dos jornais impressos. Em suas cartas que chegavam às redações já na segunda-feira, estes ressaltavam a desproporção entre três aspectos do evento: o que se esperava em termos de manifestação popular, aquilo que contaram as emissoras de TV e aquilo que, de fato, aconteceu em Salvador.
O tom hiperbólico da cobertura televisiva, dando conta de uma multidão de milhares de pessoas que teriam tomado as ruas da cidade por onde passou o cortejo fúnebre, não encontrava ressonância nas ruas de verdade. Sim, houve filas para uma despedida do corpo do senador e uma multidão concentrada em frente ao Palácio da Aclamação, onde foi velado, mas em uma dimensão que, em se considerando a relevância do personagem político que foi durante quatro décadas, estava longe de representar a comoção popular que se esperava no dia em que morresse. Sobretudo em se tratando de um sábado, dia em que a maioria das pessoas não trabalham. 
FANATISMO - No entanto, alguns detalhes que saltavam aos olhos na cobertura do funeral e no comportamento dos presentes e dos ausentes chamavam mais atenção do que a quantidade de pessoas que compareceram ao local do velório e do enterro. Na saída do corpo do Palácio da Aclamação, rumo ao Campo Santo, soavam no mínimo melancólicas duas cenas. Na primeira, uma câmera dirigida por uma emissora de TV, buscava um close fechadíssimo em torno de um homem. Carregava uma faixa dessas muito mal feitas saudando ACM, ao mesmo tempo em que urrava, numa espécie de manifestação glossolálica, um discurso qualquer de fanatismo. A câmera, de tão próxima, praticamente lambia o rosto do sujeito, imagem que, quando televisionada, insinuava uma multidão atrás dele. Na verdade, estavam em torno da tal faixa nada mais que meia dúzia de pessoas, numa cena que constrangeria o senador se este pudesse se saber objeto de tal manifestação. Aos repórteres, em sua maioria, sobrou o pecado de não realizar entrevistas, mas de tentar a todo o custo incluir frases prontas na boca dos entrevistados. Ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Carbral, uma jovem reporter não se constrangeu nem um pouco em perguntar: "o senhor diria que ele é um exemplo a ser seguido"? Ora, nem a um vereador fanático e de primeiro mandado nos cafundós da Bahia se faria perguntinha tão tacanha. E essa não foi das piores.
A segunda cena situava-se entre uma ilustração do que foi o modo fazer política do senador e o toque excessivamente provinciano do enterro: a composição humana da romaria atrás do carro do Corpo de Bombeiros que conduzia ACM. Enquanto populares caminhavam aos prantos, lamentado a perda do suposto pai perdido, o que restou dos seus órfãos políticos seguia em indefectíveis carrões pretos de vidro fechado fumê. Nada mais ilustrativo dos andares de baixo e de cima que constituíam o universo eleitoral do carlismo, uma mistura ímpar de um exército de Brancaleone fanático com a elite brega sul-americana.
PRIMEIRA DAMA - Para dar um toque de surrealismo a essa mistura de classes aparentemente improvável, uma ex-primeira dama do estado, metida numa blusa branca de listras pretas verticais, aboletava- se numa pick up verde de cabine dupla, dessas boas tanto para rallies em estradas rústicas de barro quanto para ostentar superioridade nas metrópoles. Abriu a sua janela, aboliu os óculos escuros e seguiu o trajeto debulhando- se em lágrimas, praticamente pedindo para ser vista chorando pela turba ignara que a ladeava. Certamente, a carreira política do marido, agora mais claudicante do que nunca após a morte do senador, agradece tamanha performance.
O toque final para entender os mecanismos de mentira, traição e hipocrisia que norteiam o exercício do poder e que estiveram presentes também nos rituais fúnebres do senador, foi dado por uma ausência coletiva: a das estrelas da axé music, tanto as meteóricas, como as ascendentes e decadentes. Uma ou duas deram o ar da graça, como Durval Lélys. As demais, desapareceram, deixando entre os telespectadores uma dúvida cruel. A ausência do povo do axé do velório do senador, sempre tão paparicado em vida, seria um caso raro de uma coincidente viagem coletiva, justamente durante a morte de ACM, ou uma comprovação de que os cantantes da terra são uns invertebrados ideológicos que, convenientemente, ora beijam a mão de um poderoso, ora viram a casaca ao sabor das urnas?
SOLIDÃO - Não se trata se cobrar presença, mas de esperar coerência. Foi impossível ver a tela da TV despovoada de artistas durante o funeral e não pensar na propriedade dos versos de um jingle que animou as campanhas do senador: "você se lembra de mim?/Eu nunca vi você tão só". Sim, diante dos paparicos que recebeu na vida, o senador experimentou uma solidão relativa, causada pela ausência daqueles que, nem bem ele apeou do poder gigantesco que tinha, começaram a rarear e a deixá-lo só. Quanto à também pouca repercussão na mídia nacional, televisiva e impressa, a explicação é simples: além de não mais deter o poder que já ocupara no governo federal, o senador teve contra si a concorrência da cobertura dos Jogos Pan-Americanos e da tragédia de Congonhas.  
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. 

*Coluna publicada em A Tarde no dia 29 de julho de 2007

 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Teleanálise: Pin Ups Descartáveis e Espelhos Tortos no BBB

Malu Fontes, professora e jornalista
Malu Fontes

O jornalismo esportivo e, diga-se de passagem, com um empurrão e tanto da televisão, corticalizou nos consumidores de informação esportiva, a ideia do ex-jogador Edmundo como sinônimo de "Animal", assim com A maiúsculo mesmo. Sim, é bom desmontar a máscara da hipocrisia e lembrar que a cada carro que Edmundo batia, sequelando ou matando gente, a cada grosseria, palavrão ou agressão física encenados por ele, dentro ou fora do mundo dos gramados, um determinado tipo de público de fato ensaiava um aplauso ao rotulá-lo de animal. Ou seja, era uma forma quase carinhosa de sua torcida de dizer, ao mesmo tempo, que, justamente por ser do tipo bad boy, ele era "o cara" daqueles tempos idos.

Os bad boys do futebol sempre foram uma fôrma e tanto para gerar para o mundo da mídia e para os programas populares de TV, desses que morrem de inanição se não tiverem em sua pauta onze baixarias a cada dez atrações exibidas, as moçoilas até hoje conhecidas como Marias Chuteiras. Graças a um espermatozóide extraído do "Animal", com a mesma técnica e eficiência com que o Brasil jactou-se de ter feito igualzinho com Mick Jagger, uma dessas moiçolas se consagrou como uma das bem sucedidas de sua época, dessas que migram com uma flexibilidade admirável dos estádios para as orgias dos queridinhos da bola, daí para musa de uma escola de samba e disso para as revistas masculinas do tipo A para C, E até chegar ao Z. Fala-se aqui de Cristina Mortágua, uma das principais pin ups do circuito futebol, escola de samba, revistas de nudez e programas de TV que só não se assumem como trash oficialmente porque nunca conseguirão aprender e gravar o que significa isso.

BESUNTADA - O fato é que as meninas que ascenderam e acenderam na vida fazendo a trajetória de Mortágua andam meio fora de moda desde que a própria televisão inventou uma fórmula de produzi-las ela mesma em série e em safra suficiente para o ano todo. E por mais de uma emissora: os realities shows. O canto do cisne da decadência de Mortágua, a pin up do Animal, foi um ensaio fotográfico recente que tinha tudo para ser vendido como vomitífugo: para matar as saudades do  tempo de capa de revista, Cristina posou seminua e besuntada de óleo, com direito a peitos de fora e beijo na boca, tendo como par erótico ninguém menos que o próprio filho tido com (e desde a gravidez rejeitado por) Edmundo.

Esta semana, Mortágua, com cara e performance de quem homenageava a avó malvada e nojenta da "Quiara" de Mariana Xinenez em Passione, voltou a ser manchetinha e noticinha nos jornais, sites e programas bizarros de TV. Foi presa por espancar o filho, sim, o mesmo do ensaio fotográfico que, na categoria freak no Brasil, tem vaga garantida como hors concours. A razão do espancamento: a homossexualidade do garoto. Ele precisou da ajuda da empregada para ir até a delegacia dar queixa da mãe, que, chamada pela Polícia, não apenas bateu mais no filho como agrediu a delegada. Foi presa.

TRAMINHAS- Todos os lugares do mundo produzem ou importam suas pin ups sedutoras ou decadentes. É bem verdade que talvez ninguém prescinda mais delas que o burlesco Silvio Berlusconi. A propósito, o que era a boca daquela brasileira, "modelo e amiga de Berlusconi", entrevistada pela repórter papal Ilze Scamparini um domingo desses no Fantástico?!  Mas, deprimente mesmo, sobretudo para as mulheres, é ver esses tipos femininos sendo literalmente construídos nos realities da televisão brasileira e dali para as capas das revistas masculinas e delas para eventos duvidosíssimos.

O que são aqueles diálogos do Big Brother? O problema com os meninos e as meninas dos BBBs, das Fazendas e que tais não é de ordem moral, e sim em função do tamanho e do perfil de uma boa parte da audiência. Simone de Beauvoir escreveu que ninguém nasce mulher. Torna-se, aprende-se. O que o público feminino pré e adolescente acha que é uma mulher quando consome, entre a admiração e a vontade de imitação, a imagem, o repertório e o comportamento das meninas inacreditáveis do BBB? A que aquelas moças convidam suas fãs ainda em formação da personalidade? E idem para os garotos da mesma idade, com os espelhinhos tortos dos tipos masculinos nos mesmos programas?  Só que, a favor dos meninos, parece pesar o fato de eles aparentemente demonstrarem muito menos saco para acompanhar as traminhas tatibitate desses programas que as meninas.
LIXO - O BBB é um fenômeno exclusivamente brasileiro, no que tem de potencial de inspiração torta para o público imberbe e até para aquele já nem tanto? Não. Mas certamente em nenhum lugar do mundo seus participantes sejam guindados, na escala em que o são no Brasil, à condição de estrelas, de ‘artistas’, junto à boa parte da audiência. A ironia está na forma como as mesmas emissoras que os criam os representam em seus produtos dramatúrgicos. Para quem tem dúvida da descartabilidade do prestígio angariado pela quase totalidade dos homens e mulheres que estrelam o BBB, basta dar uma espiadinha na caricatura do seu estrelado metaforizado na personagem de Débora Seco em Insensato Coração. Aquele é o futuro mais previsível das estrelas efêmeras que a TV produz em um dia para macerar no outro já como lixo descartado.

Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 13 de fevereiro de 2011 no jornal A Tarde, Salvador/BA. maluzes@gmail.com 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma provocação à covardia e à omissão


Malu Fontes

Malu Fontes, jornalista e professora
A entrada em vigor da Portaria do Ministério da Saúde tornando a violência doméstica e sexual praticada contra a mulher um item da LNC (Lista de Notificação Compulsória) representa mais do que um avanço nas políticas públicas de garantia à segurança de pessoas vulneráveis. É uma provocação extremamente saudável à covardia da sociedade brasileira diante das barbaridades que ainda continuam a ser cometidas contra as mulheres em pleno século 21.


A postura de parte da população brasileira ao travestir seu machismo conivente e hipócrita e sua covardia é tão confortável que adotou um bordão abjeto dito cotidianamente e praticado na mesma proporção, como um signo do silêncio compactuador de quem acha normal um homem agredir uma mulher, desde que entre eles haja uma relação amorosa, seja ela viva ou morta. Quem neste país nunca ouviu de ninguém a infame filosofia segundo a qual "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" ganha um atestado eterno de surdez. Um bom exercício masculino de desconstrução dessa bobagem é imaginar no lugar dessa mulher genérica as suas filhas, irmãs, mães.

Quando o Ministério da Saúde estabelece que não apenas os profissionais de saúde, mas também da área de educação, devem notificar as secretarias de saúde os sinais de violência doméstica e sexual, é fato que, por mais que esses profissionais acovardem-se diante deste chamamento, temendo eventuais represálias por parte do agressor, a mera existência da compulsoriedade obriga todos a refletirem mais sobre sua responsabilidade, omissão ou atitude. E por que as próprias mulheres não fazem sozinhas a denúncia? Ora, porque está mais do que provado que, em muitos casos, essa atitude, ao invés de evitar, potencializa as agressões que já vêm sofrendo. Medo, se é que alguém despreza esse sentimento.


Um aspecto fundamental dessa compulsoriedade é o fato de estabelecer na sociedade, via políticas públicas, uma espécie de rede de apoio para além da família e dos amigos que frequentemente se omitem diante de agressões contra as mulheres por fazerem parte do grupo social que circula cotidianamente em torno do casal ou da família em que há episódios de violência. Outro mérito é o fato de se tratar de uma medida adotada no campo da saúde, convocando a sociedade a denunciar a violência a instituições deste campo e não à Polícia, à Justiça ou à Segurança Pública, o que contribui para a quebra do medo de comprometimento por parte do denunciante.

Para além e aquém das medidas legais e governamentais que buscam garantir cada vez mais a proteção das mulheres diante da desproporcionalidade de forca física perante os homens e do machismo ancestral brasileiro, que às vezes parece incurável, cabe às mulheres a sutileza de entender cotidianamente que são  os seus filhos os potenciais cidadãos que respeitarão suas companheiras e filhas no futuro ou os potenciais agressores bárbaros que continuarão repetindo esse padrão podre de comportamento masculino que adoece, mata e mutila milhares de mulheres neste pais.


Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA; maluzes@gmail.com;
texto integral cuja versão, editada em alguns trechos, foi publicado oiriginalmente no dia 12/02/2011 na página A4 do Primeiro Caderno do jornal A Tarde, no contexto de uma matéria ampla sobre violência familiar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O LEITOR DIANTE DO IMPONDERÁVEL E A BUSCA PELA NOTÍCIA DE CONSUMO FÁCIL

Malu Fontes

Jornalista, doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas e Professora da Facom-UFBA
 

No Brasil, o cidadão mediano, mesmo o de classe média alta do ponto de vista econômico, mas sem equivalência em repertório cultural, não tem interesse em informações complexas e tende a preferir consumir informação grotesca, vulgar, sem compromisso com o alargamento de sua compreensão do mundo. E, como a violência, a corrupção, a perversão humana, a violência contra as mulheres, os gays, as crianças e os pobres atingem índices alarmantes, cria-se, então, uma espécie de intolerância do consumidor mediano de notícias com as informações consideradas por ele como desagradáveis. Esse leitor busca o jocoso, o curioso, o que lhe parece imponderável, como quantas vezes uma baleia engravida ao longo da vida ou como o galo ejacula.

Esse leitor considera mil vezes mais importante ler e discutir o surgimento de um 13º signo, sobretudo quando é batizado de serpentário, do que ler, se interessar e, menos ainda, discutir a eternização de Sarney como presidente do Senado. Como seu repertório já é curto e esse leitor ou telespectador não vê nenhum problema nisso, aliado ao fato de considerar as notícias sérias chatas, ele opta, voluntariamente ou não, por uma espécie de alienação do mundo onde, de fato, as coisas que importam são decididas e acontecem. Esse leitor está para informações como esta do signo serpentário como a espuma está para água: encharca-se, absorve todas. São unha e cutícula. Notícias dessa natureza são das poucas que lhe interessam. Eles querem saber do transcendental, do imponderável, do inócuo, do milagre. E esses leitores e telespectadores são maioria, daí a repercussão.
 
Mas há duas explicações para esse fenômeno, ou seja, para a repercussão de um tipo de notícia como esta ampliar-se tanto. A primeira delas é que, com o fenômeno da internet, do jornalismo online, com a concorrência dos sites e portais por audiência, a necessidade de abastecer esses espaços com informações novas e diferentes torna-se incessante. A segunda explicação é que a universalização maior do ensino não se traduziu em um universo de leitores e telespectadores mais exigentes quanto à qualidade e à importância das narrativas que consomem, sejam elas informativas ou não.

TELEANÁLISE: "Ditaduras Abrandadas"

Malu Fontes, jornalista e professora
Malu Fontes
Coitados daqueles que têm consciência de que gostam de informação e julgam-se bem informados porque veem mais de um telejornal, em mais de uma emissora, assinam ou compram jornais com frequência e têm assinatura de uma revista semanal. A convulsão no Egito, com toques de rebelião, revolta, levante e outra dúzia de substantivos que nominam qualquer coisa parecida com turbulência social e política, dá bem a dimensão do quanto quem quer saber das coisas tem é que aprender a ler nas entrelinhas de tudo o que há por aí em letras e imagens supostamente informativas e noticiosas.
Para o telespectador dos telejornais brasileiros, por exemplo, mesmo os mais assíduos, o Egito era, até a semana passada, tão somente um destino turístico exótico na fronteira entre a África e o Oriente, o país das pirâmides, das tumbas e dos faraós. Até as imagens de convulsão irromperem e permanecerem na tela da TV, pode-se dizer que a maioria dos telespectadores brasileiros tinha certeza de que a vida política egípcia era assexuada, inexistente. No entanto, sentado e centrado no poder estava um ditador há 30 anos, abençoado e tratado a pão-de-ló durante todo esse período pelos sucessivos governos dos EUA, que dão ao Egito mais de um bilhão e meio de dólares por ano só para armar seu exército.
PITBULL - Por que os Estados Unidos armam o exército egípcio e fazem de conta, diante do mundo, há 30 anos, que ali não havia uma ditadura? Sim, pois quando se trata de invadir o Iraque e demonizar o Irã, os EUA lançam como primeiro argumento a defesa da restauração da democracia nesses países e a caçada aos ditadores que tanto mal fazem ao povo. E como polícia do mundo, o governo dos EUA sempre ensina ao mundo inteiro, sobretudo via telejornais, que não tolera ditadores. Essa intolerância está longe de ser verdadeira. Se o ditador é amiguinho, pode dormir tranquilo no berço esplêndido do poder que a polícia do mundo esquece esse blábláblá de defesa da democracia e dos direitos políticos de um povo oprimido. Assim foi com a ditadura na Tunísia, que se esfacelou há uma semana, praticamente em horas, e assim foi com o Egito durante três décadas.
A ditadura egípcia era a menina dos olhos dos Estados Unidos e recebia seu bilhão e meio de dólares primeiro porque se tem algo que mete medo, e muito, aos Estados Unidos, é a ira fermentada historicamente contra eles por grupos terroristas, fundamentalistas e radicais islâmicos do Oriente Médio. Ou seja, a ditadura egípcia e seu exército armado até os dentes é uma espécie de barricada, uma delas, atrás da qual os EUA se protegem com medo do Oriente Médio. A outra razão do afeto americano pelo Egito nesses 30 anos é o fato de Israel ser o filho primogênito e amado/armado dos Estados Unidos. No contexto geopolítico, o Egito é, para Israel, enquanto este não acha uma forma definitiva de varrer do mapa daqueles costados a Palestina e os palestinos, uma espécie de pitbull dos Estados Unidos, disposto a avançar sobre os palestinos ao menor pedido de socorro dos israelenses no meio da madrugada.

DIAGNOSTICADO - O fato é que, para o telespectador mediano, só há dois tipos de ditadores no mundo: os malucos das repúblicas de bananas da América Latina ou os radicais islâmicos do Oriente Médio. Para os ditadores da África pouca atenção é dada no noticiário, pois o continente só é destaque na mídia quando ocorre uma tragédia de grandes proporções por doença ou catástrofe natural. Quanto à América Latina, o discurso do mainstream televisivo ocidental ensina todos os dias a suas platéias amestradas que Hugo Chaves é o sucessor encarnado do diabo.

Dois pesos e duas medidas. Chavez é um ditador diagnosticado e etiquetado, mas Diogo Mainardi repreende Lucas Mendes no Manhattan Connection porque este diz que Sílvio Berlusconi é quase um ditador entronado há uma década no poder, quase um ‘dulce’, numa referência ao passado fascista da Itália. A defesa inconteste de Mainardi, hoje morador de Veneza: ‘essa fala é inverídica e um desrespeito aos italianos, pois ele foi eleito nas urnas, pela população da Itália’. Ora, então, por essa linha de raciocínio, por que a imprensa brasileira e sobretudo as emissoras de TV, em uníssono, ficam tão à vontade para "desrespeitar" os cidadãos venezuelanos se foram eles, também nas urnas, que elegeram Chávez por vezes sucessivas? Por que se pode desrespeitá-los tanto e nem um pouco aos italianos? 

Sobre como o mundo aprende que há ditadores e ditadores, há um fator extremamente poderoso no agendamento do conteúdo do noticiário internacional. A jornalista Maria Cleidejane Espiridião desenvolveu uma análise brilhante em sua tese de doutoramento pela Universidade Metodista de São Paulo, ainda em andamento. O estudo mostra como praticamente duas grandes agências internacionais, através de seus departamentos de imagem, determinam para o Brasil e para grande parte do mundo o que será veiculado nas editorias de internacional.

Embora existam dezenas de agências internacionais e três ou quatro outras sejam importantes para a produção do conteúdo sobre o que acontece todos os dias no mundo, são a APTN e a Reuters TV que geram a maior parte do que as emissoras de TV brasileiras repetirão verticalmente tal e qual. Assim, não é difícil entender porque os estereótipos dos bons e dos maus do mundo sejam previamente definidos e anunciados ao mundo por meia dúzia de pessoas. São esses grandes oligopólios da informação, junto com os interesses econômicos dos donos do mundo, que silenciam diante de uma ditadura egípcia de 30 anos e apresentam um incômodo Chávez como ‘o’ perigo para a democracia na terra. Mas é muito bom saber que as redes sociais estão fazendo uma diferença jamais vista nesse agendamento do que o mundo deve ou não ficar sabendo e que emissoras de TV como a All Jazeera, são uma pedrada nas vidraças das agências que narram o mundo ao sabor da economia política da Europa e dos Estados Unidos.

Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 06 de fevereiro de 2011 no jornal A Tarde, Salvador/BA. maluzes@gmail.com